segunda-feira, 25 de abril de 2011

"Contornos da palavra" em Viana do Castelo

Amanhã vou estar, juntamente com a escritora Raquel Ochoa e a moderadora Isabel Campos, na Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, para uma conversa sobre "Ler o mundo viajando no feminino", às 9h30.


"De 26 a 30 de Abril decorre em Viana do Castelo, a 2ª Edição dos “Contornos da Palavra”, cujo programa, este ano, tem como tema central a “Literatura de Viagens”.
Contornos da Palavra é uma iniciativa da Câmara Municipal de Viana do Castelo que visa marcar um universo de reflexão em torno da palavra centrada em grandes temáticas da literatura, estimulando a literatura e a escrita a partir da partilha de uma reflexão construtiva e da necessidade de mais e melhores leitores.

Esta iniciativa contempla a dinamização de sessões nas escolas do concelho com a presença dos escritores:
Raquel Ochoa, Teresa Lopes Vieira, Gonçalo Cadilhe, Tiago Salazar, David Machado, Pedro Seromenho, Miguel Horta e Tiago Gonçalves. "

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Festival Literatura em Viagem - 2011


Os aerogeradores - sim, acabei de aprender esta palavra - giravam imponentes, movidos pelo vento, exalando energias renováveis pelas brisas da Beira Litoral. Estava uma tarde fantástica na A8, até que tudo começou a correr mal. Um senhor agente de bigode combativo acena-nos ao longe para que tomemos o primeiro desvio à direita. Lá vamos em fila indiana até Pataias (não é assim tão interessante quanto o nome o possa sugerir) até que um ataque de genialidade nos empurra para um caminho alternativo “incomparavelmente mais rápido”. Quem é que quer ir para o Porto, e em vez disso acaba a ver o pôr-do-sol na praia da Nazaré? Boa tarde, o meu nome é Teresa Lopes Vieira.

Às onze da noite chegámos ao hotel com um único pedido: que nos indicassem um lugar para comer. Qualquer lugar. Um moço prestável, de sorriso copy-paste, aconselha-nos gentilmente o restaurante da esquina. Escutámos com atenção e, obviamente, escolhemos outro qualquer. Fartos de cambalear pelos cantos de cansaço, tocámos, hesitantes, a uma campainha de esquina aleatória. Acolheu-nos uma senhora de pálpebras azuis garridas, que trotava à nossa volta em pontinhas dos pés, e nos mimou como se de nossa mãe se tratasse. Era uma sala do género casamentos e baptizados onde, por dez euros cada, comemos fartamente. Mais tarde fomos a rebolar para o hotel. Ia ser assim em Leça e Matosinhos: engordar bem, à moda do Norte, todos os dias.

Mas o principal era o motivo da minha viagem. Aquilo em que já cismava há semanas. Há que compreender isto. Quando eu digo que vou assistir a um festival de literatura, no qual ainda por cima fui convidada a participar, é como uma miúda de 18 anos que recebesse de borla um bilhete para o Festival Sudoeste TMN. Os mais prestigiados autores, aquelas pessoas de cuja figura só normalmente vemos um busto constrangido na lapela de um livro; iam estar lá, passeando como se nada fosse, comportando-se como pessoas normais. Comendo, andando, dormindo, cagando. E eu no meio deles.
Sentavam-se na mesma mesa onde eu ia falar. Uns divagavam sobre a vida, outros liam textos, outros experimentavam o humor. E depois ia chegar a minha vez (quem é esta??). Como tentar igualar em interesse Richard Zimler, best-seller internacional, nesse dia sentado nem mais do que duas cadeiras ao meu lado? Tema: “o futuro é uma viagem da memória”... No fim, decidi-me a falar daquilo que de mais interessante me tinha acontecido nos últimos tempos: algumas viagens, o meu livro.
Penso que terá corrido tudo bem. Não desmaiei nem vomitei, ninguém se foi embora a meio; e eu, por minha vez, adorei poder fazer parte de um evento como este.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

LeV - Literatura em Viagem - 2011


“A Câmara Municipal de Matosinhos vai organizar a 6ª edição do LEV - Literatura em Viagem, um festival internacional de literatura, que se irá realizar entre os dias 16 e 19 de Abril, na Biblioteca Municipal Florbela Espanca.
Este evento, que pretende contribuir para uma reflexão em torno da importância que a literatura, em interacção com outros domínios da sociedade, assume nos dias de hoje, reúne em torno da literatura de viagens, importantes escritores e personalidades, provenientes dos quatro cantos do mundo, num encontro que promove o livro, a leitura e o diálogo intercultural.”

Luis Sepúlveda, Gonçalo M. Tavares, José Luiz Peixoto, valter hugo mãe, e Ondjaki, são alguns nomes entre os 50 artistas de vários países que irão participar neste evento.

Dia 19 de Abril – terça-feira, às 15h, “O futuro é uma viagem da memória” com António Jorge Gonçalves, C.S. Richardson, Henrique Fialho, Richard Zimler e Teresa Lopes Vieira.
Moderador: Alberto Serra.

sábado, 2 de abril de 2011

Aló, presidente? Sí, presidente.

E eis que a controvérsia atinge de novo este pais tropical à beira das Caraíbas plantado. Imenso e contrastado são dois adjectivos que tanto servem para descrevê-lo a si, como ao seu líder. A Universidade de La Plata, na Argentina, decidiu atribuir um prémio para a liberdade de imprensa ao Presidente da Venezuela Hugo Chávez. Assim o foi, pelo seu “contributo para a comunicação popular”, por “desmontar os monopólios mediáticos vigentes” e pelo seu “inquestionável compromisso na defesa da liberdade do seu povo, na consolidação da unidade latino-americana e na promoção dos direitos humanos e valores democráticos”.

Afirma Bart Jones, jornalista e biógrafo, que a principal razão que o levou a escrever um livro sobre este homem foi a de que a sua vida parecia ter “saído directamente de um filme de Hollywood”. Se bem que o mesmo fosse capaz de não apreciar a analogia, ela não perde por isso o fundamento.
Este líder controverso e polémico, amado por uns e detestado por outros, veio de uma humilde região dos Llanos, tendo passado os seus primeiros anos a viver numa cabana feita de adobe. Seguiu posteriormente carreira na Academia Militar, onde conspirou contra o poder vigente. Na altura do governo de Carlos Andrés Perez, a miséria, a inflação e o desemprego eram incomportáveis; e as riquezas provenientes do petróleo, essas, concentravam-se exclusivamente numa pequena elite. A gota de água foi sem dúvida o Caracazo, uma revolta popular reprimida sangrentamente. Um golpe militar falhado em 92, que o levou à prisão, fez então de Chávez algo parecido com um herói.
Enquanto presidente, continuou ainda a ter inimigos muito poderosos entre as classes dominantes; e sem dúvida fosse essa a explicação para algumas das suas medidas mais extremas. *

Quem o ouvisse falar, nos primeiros anos do seu governo, achá-lo-ia possuído por alguma sorte de feitiço, uma energia mágica expressa através das simples palavras. A sua capacidade de mover massas, sobretudo entre os mais pobres, é ainda hoje aquilo em que reside o seu poder.
Incorreu, porém, naquele que penso ser o artificio fatal para alguém tão extremo e provocador: tornou-se numa caricatura de si próprio, o personagem central de um gigantesco circo de demagogia, populismo, e culto da personalidade. Fugindo ao debate critico de uma sociedade democrática, rodeou-se de um bando de temerosas figuras que aquiescem a qualquer decisão sua, e se deixam responsabilizar por todas as falhas no sistema, sob pena de verem as respectivas carreiras ir por água abaixo. A revolução socialista, que tanto preconizava, não logrou pôr em prática algumas das suas mais importantes reformas. Os seus discursos transformaram-se em desesperadas chorrilhos de chavões anti-imperialistas, tão confusos e generalistas que podiam ser copiados ao infinito e aplicados a qualquer situação.
O medo da oposição levou-o a crer que alguns fins justificavam certos meios. E assim esse pavor se revelou na criação da um one man show de cinco horas na televisão estatal, transmitido todos os Domingos, em que o protagonista/herói é ele próprio. Mas também no encerramento de inúmeros postos de rádio e canais de televisão por cabo; assim como outros tipos de censura, como propostas de restrições às mensagens publicadas nas redes sociais.

Tal como diz John Dines, professor da Escola de Jornalismo da Universidade de Columbia, este prémio revela, acima de tudo, ideias diferentes sobre a liberdade de imprensa na América Latina. Eu acrescentaria que estamos perante uma perspectiva ambivalente, em que os dois lados da moeda merecem ser analisados. Considero, porém, que este prémio já teve mais razão de ser em outros tempos do que agora.


*A propósito do fecho da estação televisiva RCTV, veja-se como a informação passada nos media pode por vezes dar azo à contra-informação,emhttp://venezuelanalysis.com/analysis/2221