terça-feira, 30 de agosto de 2011

É já no dia 6 de Setembro que começa mais uma edição do curso "Escrever um livro: por onde começar?", dado por mim, na Escrever Escrever!
Saibam mais aqui.



domingo, 21 de agosto de 2011

Londres, o rescaldo



Aqui está uma entrevista elucidativa, que nos mostra a perspectiva daqueles que estiveram na origem de alguns actos de vandalismo.

Segundo o famoso blogger David Allen Green, todos temos tendência a olhar para este género de tumultos como para uma confirmação da nossa opinião política já previamente construída: seja ela um preconceito racial ou social (no caso dos conservadores de extrema direita) seja uma questão social latente (no caso da esquerda). Porque no fundo, quando confrontados com estes acontecimentos, todos acham que sabem o que realmente os causou. E assim sendo, estes motins nada mais fazem do que confirmar e reforçar os preconceitos já existentes.

Nesse sentido, o seu suposto efeito desejado (chamar a atenção para, ou a revolta contra, uma determinada ordem social) não teria sido alcançado, mas sim o seu oposto.

No entanto, penso que valerá a pena olhar para a entrevista, e ver um pouco além da atitude displicente destes rapazes para quem estes foram apenas “dias como qualquer outro”. E reflectir um pouco, como o sugere a reportagem, sobre o facto de os mesmos, ainda que perfeitamente conscientes da situação de risco (alguém, incluindo a policia, podia identificá-los através destas imagens) terem querido dar uma voz ao protesto. Mesmo tratando-se de actos perfeitamente selvagens e egoístas, a verdade é que as causas não podem ser ignoradas. Citando o próprio repórter: “o facto de estarem isolados não é uma desculpa, mas sim parte do contexto”.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Se não podes vencê-los, junta-te a eles

“- Vamos correr?
- ‘Bora.
- Para onde?
- Para a praia!”
Parece uma ideia genial, não parece? Mas não é.

Primeiro erro estratégico: “vou cedo, para apanhar a praia vazia”.

Já pintava o cenário idílico de um areal extenso, a costa serena e límpida, e escassos banhistas aqui e ali, começando a surgir por entre as brumas matinais.
Mas a minha ingenuidade, constato, não tem limites, no que toca a planos lúdico-desportivos estivais.
Sou também levada a concluir que a minha ideia de “cedo” pode ser o “normal” dos outros (e, assim sendo, eu não sou uma pessoa normal).

Penetrava eu nas belas dunas, quando, em vez da célebre maresia que tanto enche os pulmões de oxigénio, fustigou-me as narinas um cheiro a lula frita e cebola refogada. Mas não me deixei derrotar. Depois de meses de vida sedentária, decidira revoltar-me, e obrigar-me a praticar o desporto de que todos necessitamos. E sim, é Verão, como tal há que aproveitar ao máximo os atributos do nosso clima. O facto de não ver o mar há quase dois meses chocava a adolescente fútil de cujos vestígios sobrevivem moribundos em mim, que se queria bronzeada e saudável, e para quem a desculpa “estou cheia de trabalho” não servia.

Na areia, lutando para encontrar espaço para a toalha, constatei que o horizonte se desdobrava em centenas de guarda-sóis coloridos. O cheiro a lulas misturava-se agora com um aroma a suores mistos e cremes solares. Instalei-me ao lado de uma família de emigrantes luso-franceses, e escutando o som do seu radiofone a pilhas da última geração, suspirei. No ranking de cenários idílicos, este não estava certamente entre os primeiros.
Mas ia correr, disso ninguém me podia impedir. A parte da motivação estava ultrapassada, e agora seria demasiado mau perder o momentum.
Dei então início a uma gincana que se poderia comparar a uma prova de equitação olímpica, versão Ser Humano. Para avançar dois metros tinha de saltar por cima das senhoras brancas e volumosas sentadas de chapéu à beira-mar, das crianças semi-nuas que corriam suicidáriamente na minha direcção, e desviar-me das barrigas proeminentes de alguns banhistas mais adeptos da lula guisada. Sentia que estava num jogo de computador, em que eu era o desafortunado personagem principal. E não estava a passar de nível.

Será que a população portuguesa triplicou nos últimos meses? Perguntei-me.

Ou será simplesmente que, no Verão, o português comum passa cem por cento do seu tempo na praia, como se fosse outro trabalho qualquer, ao qual ele sente a necessidade de se dedicar com o mesmo afinco? A segunda, penso, é a resposta correcta. Por isso, resolvi não ir contra o sistema. Afinal, eu também sou portuguesa. No meu próximo dia livre, não vou esquecer que às nove em ponto tenho de estar na areia, mas não para correr. Na mala do carro levo o guarda-sol e a lancheira com sandes de rojões e minis. Faço também questão de levar a cadeira desdobrável, e os putos (que não tenho, mas arranjo uns). O desporto, esse, fica mais para Setembro.