tudo acontece mais devagarinho. O tempo escorre, lento, e as
coisas afinal já não têm tanta importância. Podemos fazer aquele telefonema
mais tarde, os compromissos na agenda são adiados e as pessoas podem esperar,
porque estamos doentes.
Quando estamos doentes, gostamos mais da cama e podemos
ouvir a música que queremos. Parece que cantam para nós e dizem para não
ficarmos assim.
Quando estamos doentes, sempre bêbados: a cabeça comprime o
cérebro ou os comprimidos fazem isso por ela. Os olhos brilham e ardem e de
repente percebemos exactamente o nosso corpo. Ele já não é estranho nem descartável.
É um corpo que chora.
Quando estamos doentes, pedimos mimos. E quando não há
ninguém para os dar, mimamo-nos a nós mesmos (por isso é que há os chocolates,
e nesse caso ficamos ainda mais doentes).
Tornamo-nos peritos em medicação, somos uma farmácia
ambulante e cronometrada, ciente do tempo de vida de cada componente
farmacológico. Temos frio e calor, depois frio, e calor, e frio e calor. Queixamo-nos
muito mas depois fingimos que está tudo bem, para podermos sair a fazer coisas,
porque é aborrecido estarmos doentes. Mas depois – claro – ficamos mais
doentes.
Quando estamos doentes, isso é chato. Porque tudo planeado e
afinal a vida vem-nos lembrar que nós não controlamos nada. Há coisas a ferver
dentro de nós, bactérias que têm motivos próprios e nada podemos fazer.
Mas uma pausa é por vezes o que falta para perceber que nem
tudo tem de ser assim, tão rapidamente assim.